terça-feira, 18 de maio de 2010

Transferindo uma jandaira(parte II).


Após aquela primeira colônia ter fracassado,eu fiquei imaginando qual era o motivo disso ter acontecido,já que muitas pessoas,daqui do cariri,têm troncos com abelhas e passam muitos anos sem terem problemas.

No sábado,meu tio chegou de viagem e como é de costume,ele vai logo ao seu sítio,saber se está tudo bem,deixar ração para os cavalos,cabritos,enfim fazer algumas obrigações,eu aproveitei e fui com ele e meu irmão,para abrirmos um novo galho e finalmente fazer a primeira transferência ,bem sucedida daquele sítio.

Durante a viagem,eu não disse nada sobre a tal tentativa de transferir as abelhas,chegando lá eu e meu irmão fomos tirar um galho de imburana que tinha uma jandaíra,e estava pendurado em uma algaroba,atrás da casa.Enquanto isso meu tio estava indo com Miguel olhar algumas mudanças que precisavam ser feitas no açude.


Levamos o galho para o mesmo lugar:a cocheira,e já fomos abrindo-o e novamente nada,a mesma coisa da galho anterior;alguns potes de alimento vazio,algumas lamelas de cera,pouquíssimas abelhas,e agora,o que vamos fazer?perguntou meu irmão,com um ar de desânimo.Vamos abrir mais um,respondi com segurança e certeza que não adiantava deixar aqueles galhos,(que nós achávamos que estavam bem)intactos sem sabermos se ainda tinha uma colônia de jandairas,dentro deles.

Qual é o que nós vamos abrir agora?O que estiver mais perto e mais fácil,respondi.
Meu irmão tirou um galho que estava próximo ao galpão da forrageira,pois,era bem perto de onde estávamos.Fizemos todo o procedimento,só que dessa vez,o resultado foi um pouco diferente,pois,nesse galho tinha dois pequenos discos de cria,alguns potes de mel,e a rainha.Com cuidado,transferi tudo para a caixa;e resolvi levar para minha casa,pois,achei que aquela colônia precisaria de um bom reforço e cuidados especiais.

De volta à nossa casa,levamos a caixa para um pé de angico,que tem uma jandaíra à mais de vinte anos(o curioso é que geralmente,angico,quase não tem oco)e é uma colônia muito populosa e brava,pois,se alguém bater nessa árvore,pode se preparar para correr,pois,não vai aguentar as mordidas,digo isso,por experiência própria.
Essa colônia é da espécie de jandaíras "pequena",que são muito produtivas,valentes e mais rústicas,se comparado com a espécie de jandaíras"maior".



Levei a escada,pois,a entrada da colônia é alta,também levei o chapéu com tela,para me proteger,subi com a caixa na mão e mandei que meu irmão desse algumas batidas no tronco de angico;ele só conseguiu dar uma três batidas,e as abelhas botaram ele pra correr.
Eu fiquei observando a saída das abelhas,pra não deixar sair demais(isso poderia enfraquecer a colônia natural),quando percebi que já tinha um bom número de abelhas fora,fechei a entrada com um pedacinho de papel,e posicionei a caixa racional na altura da entrada,prendi a caixa com um arame e fiquei observando as abelhas entrarem,pois a cera ajudava na identificação da nova morada e atraía as abelhas.

Quando as abelhas entraram,eu fechei a caixa dessa vez com a própria cera,e abri a entrada do angico,fazendo com que as abelhas que estavam dentro do oco saíssem e fizessem uma nuvem ao redor do meu chapéu.Eu desci da escada,com cuidado,levei a caixa pra longe,chamei meu irmão para vir buscá-la,peguei a escada e voltei pra casa com a certeza que aquela colônia tinha uma nova chance de se recuperar.

Fui levar a caixa para o local definitivo,deixei a entrada fechada com cera,pois quando elas abrissem a entrada,já estariam acostumadas à nova colônia e com o novo local,que é distante uns 500 metros do angico.

Amanheceu o dia,eu fui tirar o leite,fazer mais algumas coisinhas,pra poder ir olhar como estavam minhas novas hóspedes.Cheguei ao meliponário,com cuidado para não estressar ainda mais as abelhas,e percebi que elas já haviam aberto a entrada, e estavam retirando o excesso de cera, que estava ao redor da boca.

Botei algumas armadilhas externas para forídeos,e só revisei essa caixa uma semana depois,felizmente estava tudo em ordem,forneci um pouco de alimento,coloquei mais cera,próximo a entrada,para que elas colhessem,e sai de lá feliz da vida,pois pra quem ama as abelhas sem ferrão,é muito bom vê-las bem.

Hoje essa colônia está bem forte, com bastante discos de cria e alimento...

Eu falei com tio Carlinhos,que temos que abrir os galhos que ainda faltam,pra ver se tem ainda alguma colônia que possa ser transferida para caixa racional.

Conversando com Miguel,ele me disse que sempre via lagartixa,perto da entrada das abelhas,talvez esse seja o motivo dessas colônias terem se acabado.
Outra coisa que pode ter influenciado,para o fracasso dessas colônias,é o fato de terem sido tiradas durante o dia;cortadas com machado(os galhos)e logo em seguida,terem sido trazidas pra casa(o que deixou a quase totalidade das abelhas adultas fora do ninho).

Após essas primeiras experiências,com as jandaíras,meu tio disse que não iria mais querer comprar mais nenhum galho,com abelhas,pois,só estaria tirando-as de seu habitat e não conseguía criá-las.

Mas da próxima vez que ele encontrar alguma abelha,dependendo de onde está alojada(porque jamais eu cortarei o tronco de uma árvore,para tirar uma abelha;aliás,eu tenho lutado contra isso,em nosso sítio e nos sítios vizinhos)se for em um galho que possa ser cortado,sem danificar a árvore;eu mesmo irei fazer a transferência,direto do galho para a caixa,com todo cuidado com as abelhas e com a árvore.

Um abraço.
Paulo Romero.
Meliponário Braz.

8 comentários:

Alien disse...

Parabéns por seu trabalho Paulo,
cada vez me interesso mais pelos meliponineos. Estamos sempre a aprender algo de novo.

Grande abraço

MONTEDOMEL/JPifano

Paulo Romero de Farias Neves disse...

Amigo Pifano,
Muito obrigado pela visita,esse meu trabalho é feito com o intuito de diminuir a destruição da nossa caatinga e,consequentemente à preservação das abelhas nativas e do próprio homem.

Um abraço
Paulo Romero
João Pessoa.PB

José Halley Winckler disse...

Paulo,

Parabéns pela postagem, pela história e por sua preocupação em preservar abelhas e árvores.

Paulo Romero de Farias Neves disse...

Amigo Winckler,obrigado pela visita e pelo comentário...

Pra mim meliponicultura é isso,preservação das abelhas e das árvores...

Um abraço.
Paulo Romero.

Bioma Caatinga disse...

Parabéns Paulo, o sucesso está na persistência.
Pouco a pouco as abelhas nos mostram o caminho.
Abraço!

Paulo Romero de Farias Neves disse...

Olá amigo,
obrigado pela visita,e pelo incentivo.

Paulo Romero.

Meliponário do Sertão disse...

Olá amigo Paulo,
As abelhas dessas colônias "sumiram" por muitos motivos, vc mesmo já consegui idenficá-los, sem proteção os predadores naturais vão devorando as forrageiras que saem para trabalhar, sem conseguir alimento, as abelhas mais jovens morrem de fome junto com a rainha, essa geralmente é a última a morrer pois consegue sobreviver mais tempo devido as suas reservas de gordura abdominal. Por fim, ficam somente os potes vazios.

O correto é cortar o galho e deixá-lo na mesma posição que foi encontrado, no final da tarde, por volta das 5:30 ou 6h, retorna-se e levamos o galho para o lugar definitivo.

Antes de comprar bata pra saber da qualidade do enxame, geralmente colônias fortes são agressivas. sinal de muito alimento e bons discos.

Eu sei o que passou, no início da atividade, há alguns anos atrás, eu perdi mais de 30 colônias de Jandaíra em caixas sem saber o porquê, só depois de muito apanhar foi que descobri que era fome.

Por isso, mantenha sempre suas colônias com bastante mel (ou xarope), principalmente quando não temos muito tempo para sempre inspecioná-las.

Grande Abraço,

att,

Kalhil P. França
Meliponário do Sertão

Paulo Romero de Farias Neves disse...

Amigo Kalhil,

obrigado pelas dicas,...eu sempre acompanhei seu trabalho,inclusive eu criei esse blog,inspirado no seu...

Um abraço.
Paulo Romero.