sábado, 15 de outubro de 2011

Repensando a meliponicultura IV.




E o debate continua.

Resolvi,postar mais um email que recebi de um amigo,que também tem sua opinião à respeito desse assunto.


Olá amigo.

 Desculpe a demora para lhe enviar o e-mail com o ponto de vista que havia proposto,pois somente hoje pude dispor de um tempo livre nos afazeres do dia a dia.



Como mencionei no último comentário que participei no seu blog,somente através desse contato direto entre meliponicultores é possível colocarmos um ponto de vista acerca da viabilidade na criação de uma espécie de abelha melípona em outra região que não a região em que naturalmente a espécie se encontra,pois podemos dispor de mais espaço para desenvolver uma reflexão;e um ponto de vista alicerçado por pesquisas que eu fazia sobre o assunto,de maneira mais abrangente,há quinze anos atrás.




Primeiro,temos que levar em conta que a criação de abelhas indígenas,aqui no Brasil,sempre fora desenvolvida de forma artesanal,até o começo do século passado,em suas próprias regiões naturais de incidência.


Creio que só havia,por esse tempo,um maior interesse pelas ditas abelhas unicamente pelas populações envolvidas em tais criações,tornando inexistente essa questão do transporte de colônias,e a viabilidade,ou não,da criação de uma espécie de determinado ecossistema em um outro ecossistema diferente do original,pois não havia e não houve nenhum registro importante de algum transporte e criação de meliponíneos de uma região a outra por esse tempo,e de algum eventual desenvolvimento das mesmas.



Coube a um grupo de cientistas,ou pesquisadores,há algumas décadas,essa tarefa de voltar os olhos para as abelhas melíponas com vistas a transformar a então criada atividade “meliponicultura” em algo menos artesanal,mais racional em termos de manejo,assemelhando-se à apicultura que já era desenvolvida no país,desde a Colonização.E esses pesquisadores voltaram os seus olhos para as mais variadas espécies distribuídas e conhecidas em cada região.E esses pesquisadores procuraram não somente desenvolver as técnicas de criação,mas,também,estudar essa questão do isolamento genético de populações de abelhas de outras regiões que poderiam ser criadas fora de sua região de origem.




Então,é necessária,nessa questão da viabilidade da criação de abelhas melíponas de uma outra região,com uma preocupação no campo genético,uma leitura totalmente científica,feita por esses pesquisadores de então.Porque sabemos que existe, pelo menos inicialmente,um bom desenvolvimento das colônias,mesmo sob essas condições de isolamento genético,mas,há essa teoria de que,com o tempo, se não houver,eventualmente, a adição de outras colônias,ou discos de crias,a criação tenderá a se extinguir devido à consaguinidade.




Não conheço relatos de criadores que conseguiram manter (sem haver essa renovação genética)uma criação por um maior número de anos,pois acredito que a maioria dos meliponicultores que se interessam em criar abelhas de outras regiões,sabe que existe a teoria da necessidade de um número mínimo de colônias para manter a criação longe de uma extinção futura,devido à consaguinidade.




Acho que uma boa fonte para verificarmos a viabilidade na criação de meliponíneos em outras regiões que não as de origem dos mesmos,seria através do link fornecido pelo amigo português na última postagem do seu blog,pois o mesmo nos leva a um nome que deve ser levado muito em conta,por tratar-se do nome de um autodidata/criador muito conhecido literatura afora,há muitos anos,e contemporâneo e amigo do grande mestre Paulo Nogueira-Neto,que em seu livro narra, àquele tempo(acho que na década de 60),que forneceu ao senhor Cappas colônias de meliponíneos brasileiros,e que tais colônias,àquele tempo,se desenvolviam bem;cabendo aos que se interessam pelo assunto atualmente,saber se esse criador ainda possui aquelas colônias “intactas”,ou seja,sem ter havido o expediente da renovação genética através da aquisição de novas colônias da mesma espécie,ou a aquisição de discos de cria.Então,poderíamos ter uma melhor ideia da viabilidade da criação de meliponíneos sem o perigo da consanguinidade,tendo em vista o tempo decorrido no desenvolvimento das colônias e o isolamento geográfico (outro continente)que tais colônias -se ainda existirem -se encontraram,ou se encontram.




Então,espero ter fornecido uma visão conseguida através de pesquisas que fiz de uma maneira mais aprofundada há quinze anos,e de repente a provável existência novos dados,mais atuais,sobre o tema,possam fornecer mais subsídios para que possamos chegar a uma conclusão sobre a viabilidade da criação de uma espécie diferente de melípona em um outro ecossistema diferente do original.



Um abraço amigo.


 Fco Mello .

Abraço.
Paulo Romero.
Meliponário Braz.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caros amigos,
Realmente a consanguinidade é um grande problema... Existem na Natureza algumas espécies em risco de extinção em virtude da falta de variabilidade genética... por exemplo, as Chitas em África estão em risco de extinção, ao contrário do que costuma ser normal não por causa do Ser Humano, mas sim porque num período do passado quando estiveram perto de uma extinção natural, alguns poucos indivíduos conseguiram escapar-lhe... mas o problema já estava instalado, porque os sobreviventes eram demasiado poucos e o património genético já estava de tal modo comprometido, que agora estão a caminhar naturalmente e a paços largos para a extinção a que escaparam à milhões de anos atrás...
Com estes nossos insectos, as coisas podem ser tão más ou piores, particularmente devido ao processo de diferenciação sexual destas espécies, se por algum motivo a sua variabilidade genética for posta em causa...
Toda a gente sabe que as fêmeas das Apis e das Meliponíneos são diploides (2n) ou seja têm duas séries de cromossomas (2n cromossomas), de modo a que para cada característica existem pelo menos dois genes localizados em cromossomas homólogos... metade dos cromossomas (n) são de origem materna (do óvulo) e a outra metade (n) de origem paterna (espermatozoide)... (assim n+n = 2n)... ou seja têm pai e mãe...
Já os machos são por norma (e repito, por norma) haploides (n)... são resultantes de um óvulos (n) não fecundados, que se comportam como ovos (partenogénese), que evoluem para embriões, que por sua vez evoluem para seres também haploides (n), os zangões... ou seja são verdadeiros filhos da mãe :-)...
Mas como também já se sabe, os machos das Apis e das Meliponíneos são definidos pela homozigotia nos "genes" sexuais... Ou seja, se os genes sexuais (ambos os alelos) forem iguais em ambos os cromossomas homólogos (portanto de um indivíduo diploide 2n), dá origem a machos... algo que se consegue com mais facilidade quando as fêmeas acasalam com machos do mesmo grupo familiar... pois a probabilidade de encontrar genes iguais em indivíduos da mesma família aumenta muito...
Esta condição de "homozigotia" é fácil de encontrar em células haploides (n), visto que por norma nesta células para cada característica só existe um gene... daí óvulos não fecundados evoluírem sempre para machos... Os nossos Zangões normais...
Ora bem... Aqui é que reside um grande problema quando se trabalha com poucas colónias e/ou se trabalha apenas com colónias que partilham o mesmo fundo genético... Pois o risco de a rainha ter acasalado com machos aparentados é maior e o risco de começar a por ovos que dêem origem a machos diploides (2n), aumenta muito...
Na Apis, quando tal acontece verifica-se nos favos de criação a postura a que se dá por exemplo o nome de "tiro de caçadeira", pois as obreiras ao detectarem estas larvas de machos diploides eliminam-nos, ficando a postura cheia de falhas das células vazias...
Portanto o lógico será quando se tenta levar estes tipo de animais para outra região onde não existem, ou onde se pretenda recuperar uma espécie que tenha desaparecido, que sejam levadas diversas colónias e de preferência o mais diversas possível geneticamente...
Já me alarguei demais...
Cumprimentos para todos,
Paulo de Sousa Ribeiro
(Portugal)

Paulo Romero de Farias Neves disse...

Amigo e xará,

mais uma vez,obrigado pela contribuição nesse debate,seus pontos de vista,só melhoram o nível e nos ajuda a entender mais esse tema tão importante.

Abraço.
paulo Romero.