domingo, 21 de novembro de 2010

Minha infância no cariri paraibano.


A viagem foi cansativa,mas mesmo assim sempre vale à pena,pois estar de volta ao meu cariri,e poder rever os familiares,a minha caatinga,e as minhas abelhas nativas,é revigorante.

O dia amanhece.

_Paulo,venha tomar café meu filho,já tá tarde.
_Já vou mãe.
_Benção mãe.
_Deus te abençoe,meu filho.
_Cadê todo mundo?
_Seu pai foi lá no riacho,olhar a sangria da barragem.
_Sangria?E a barragem está cheia?
_Tá sim,meu filho,com a chuva dessa noite ela está sangrando.
-E os meninos onde estão?
-Foram olhar as cercas e ver se as águas não derrubaram alguma coisa.

Ao olhar pela janela da "sala de janta",eu tive uma grande surpresa,pois vi a mata nativa intocada,igualzinho a quando eu era criança,por um instante fiquei confuso.

Saí na porta da frente e vi,que na imburana haviam muitos canários da terra,fazendo a maior algazarra matinal.

Calcei a bota e fui até o curral,(a lama era muita)percebi que as vacas de leite estavam bem gordas e com muito leite,afinal ,meu pai ainda não tinha feito a ordenha.

Nesse momento,um grito estridente me atraiu a atenção,era o carro de boi,que apontava na estrada,carregado de palma e sendo puxado pelos bois "barra branca" e "bordado",ao lado dos bois vinha seu Manoel Pedro,aboiando e animando aquele começo de dia.

Ao chegarem ao meu lado,eu perguntei a seu Manoel,pra onde estava indo aquela palma.E ele,com aquele ar de alegria,me disse:Estou levando pra cocheira,seu avô está com uma engorda de 100 bois,e enquanto os meninos estão colocando o farelo de algodão e cortando o capim elefante,eu fui buscar essa palma,pra adiantar a luta.

Enquanto seu Manoel,seguia para a cocheira,meu pai apareceu na porteira grande,ele montava seu cavalo(batuque),e vinha apressado,pois já estava tarde para tirar o leite.

Após tomar a bênção,eu já fui querendo saber da sangria da barragem,então ele me disse que a água estava passando uns 60 centímetros acima da parede, da velha barragem de pedra e cimento,mas está sem perigo,quando seu avô construiu aquela barragem,ele teve todo o cuidado de fazer o melhor serviço possível,para evitar rompimento.

Meu pai disse que quando vinha do riacho,passou pelo meliponário e olhou algumas caixas,elas estão cheias de mel,se organize para fazer a colheita,pois esse ano elas trabalharam muito,e nas 100 caixas,vamos tirar uns 200 litros de mel,com certeza.

Enquanto eu estava preparando as coisas,para começar a colheita do mel,os meninos chagaram,e disseram que a chuva havia feito alguns estragos,derrubado algumas cercas,e que os reparos tinham que ser feitos logo,senão os animais poderiam sair da propriedade.

Meu pai ouviu o que os meninos disseram,já mandou chamar seu Zé Gonzaga e Inácio de Manoel Pedro,e disse onde estavam os estragos nas cercas,e que era pra eles irem consertar,e depois fazerem uma revisão geral nas cercas,pra verem se não haviam mais estragos,como eles iam andar muito,foram à cavalo.

Chamei meu irmão mais velho,pra ir comigo fazer a colheita dos primeiros litros de mel do ano,seguimos para o meliponário das jandaíras,levando 10 litros vazios.

Como meu irmão era mais ágil,já foi tirando as melgueiras,tapando os buracos que ficaram abertos nas caixas articuladas,e me entregando para que eu furasse os potes e virasse sobre a vasilha com a peneira,realmente as melgueiras estavam bem pesadas.

Terminada,a primeira colheita,voltamos pra casa com os litros cheios e a certeza que esse ano a produção de mel de jandaíra seria quase o dobro dos outros anos.

-Meu filho,esses 20 litros foram de quantas caixas?
-De 10 caixas mãe,é muito mel,essa é a hora de investir um bom dinheiro nas jandaíras,toda essa produção é resultado do bom inverno,mas também do trato que eu dei nas abelhas no período da seca,elas só estão me recompensando.

-Veja,prove o sabor desse mel,existe coisa melhor nesse cariri?
-Realmente esse é o melhor mel,que temos por aqui.

Paulo...Paulo...,acorde,meu filho já é tarde...,eu só deixei você dormir até agora,porque sabia que você estava cansado da viagem de ontem...
-Mãe,eu estava tendo um sonho,que preferia não ter acordado.
-Você sonhou com o quê?
-Com minha infância,com papai vivo...,não chore não meu filho,foi só um sonho;eu sei mãe,mas parecia tão real,como eu gostaria que fosse realidade...A realidade do meu tempo de criança.

OBS.:Todo esse relato,foi minha infância...

Um abraço.
Paulo Romero.
Meliponário Braz.
João Pessoa,PB.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A casa das abelhas.

Como já foi dito por mim ...,eu tenho algumas colônias de jandaíras, de uruçu e uma cupira,aqui em João pessoa...Essas caixas estão na casa de minha irmã;penduradas na frente da casa...,mas em breve providenciarei nova localização para elas...

Com o desconhecimento quase que total das pessoas do meu bairro,em relação as abelhas nativas,muitas pessoas chegam a chamar meu sobrinho,para perguntar como é que alguém cria abelhas na cidade,botando os vizinhos em perigo...

Em quase todas as vezes que eu vou lá,alimentar as abelhas,ou simplesmente fazer uma inspeção,sempre me aparece alguma pessoa curiosa, querendo saber das abelhas...claro que eu explico que são nativas,sem ferrão...,mas ,a maioria das pessoas ficam com uma cara de quem não acreditou muito,nessa explicação...

Ontem,eu recebi um telefonema de minha irmã,dizendo que um rapaz veio lá e chamou meu sobrinho,para perguntar de quem eram aquelas abelhas...Ele respondeu que eram minhas...,aí o rapaz disse: Lá na minha casa tem um monte de abelhas,em um galho de árvore,e todo mundo está com muito medo...será que são dessas daí?Meu sobrinho disse que com certeza não eram,e que possivelmente seriam ápis...,e orientou ele a chamar os bombeiros para fazerem a retirada...,pois, seriam um perigo para os moradores...

Quando eu estou nas ruas próximas,algumas pessoas já me conhecem como o rapaz da”casa das abelhas”...

Eu vou colocar as abelhas na parte da trás da casa,pois elas ficarão mais protegidas e não chamarão atenção dos vizinhos...

Um abraço.
Paulo Romero.
Meliponário Braz.
João Pessoa,PB.